Na minha terra, dizem que aquelas pessoas que comem de tudo (até comida estragada) e que não passam mal têm estômago de avestruz, pois parece que esta, que é a maior ave do mundo, alimenta-se de tudo um pouco: sementes, pedras, pequenos objetos, o que estiver ao redor. Trata-se também de um animal “sempre em prontidão”, veloz e ágil, capaz de correr a 60km/h, e que em muitas culturas africanas, carrega simbolismos ligados à vigilância, ao movimento entre mundos e à justiça. Todas estas características qualificam o avestruz a se tornar uma potente metáfora do que é importante para alguém tornar-se artista e só por isso já agradeço à Diego Garcez por este livro que apresenta de maneira perspicaz o seu processo de tornar-se artista. Sempre digo que esta profissão é talvez das mais insalubres, demandantes e injustas do mundo, pois não oferece garantias, não tem sindicato, não há um plano de salários, cargos e carreiras, e exige coragem para expor o que há de mais íntimo e subjetivo ao escrutínio público.
Desde 2022 acompanho esse percurso de perto. Escrevo esta orelha não como uma leitora externa, mas como quem está implicada, tocada, transformada no processo de e com Diego Garcez. Como quem conhece o avestruz e reconhece os dilemas da gestacão artística, as angústias, as frustrações, as buscas, e também como alguém que nasceu no Recife e foi brincante do Carnaval de Olinda como Diego, reconhecendo um certo sotaque, ritmo e tom de uma trajetória migrante semelhante. Há anos venho cutucando a divisão que existia na produção dele entre pintura e escrita: por que escolher entre uma coisa e outra? O livro aponta para esse entre-lugar como um campo fecundo.
Este é um livro mestiço também por ter algo de tratado, algo de diário e algo de poesia. Nele, o gesto de pintar está entrelaçado ao gesto de escrever. Diego escreve como pinta e pinta como escreve. O texto caminha lado a lado com a construção de uma identidade como artista e como homem. Um homem que observa outros homens: seu pai, seus professores, os artistas e poetas mais velhos. E também observa o filho, Caio. Um artista que se pergunta a que tradição pertence, como se engendra uma genealogia artística e identitária. Sua escrita está comprometida não apenas em refletir sobre as masculinidades, mas em performá-las no cotidiano e, contrariando o que se espera de um homem a partir de uma perspectiva social tradicional, Diego Garcez escancara a sua vulnerabilidade de aprendiz e afirma que não está pronto, mas está em prontidão e é isso que importa na pintura. Ele acaba por nos mostrar em seu relato que isso é também o que importa na vida.
Informações sobre o Livro
Idioma : Português
Editora do livro : URUTAU EDITORA
Autor : GARCEZ, DIEGO
Título do livro : Avestruz Pequeno – Estudo Sobre a Prontidão
Data de publicação : 15-10-2025
Gênero do livro : Ficção
Peso : 130 g
Quantidade de páginas : 96
Ano de publicação : 2025
Altura : 30 cm
Largura : 23 cm

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